Acompanho a carreira do jovem escritor Rafael L. Ferrari desde 2017, quando participamos juntos de uma mesa sobre literatura e juventude na Feira do Livro de Brasília. Ali trocamos figurinhas e li seu romance “A sombra daquela garota”, uma história sensível de duas meninas de temperamentos e histórias opostos. Agora, na feira deste ano, novamente fizemos aquela permuta que me trouxe seu novo livro, “Nove semanas de março” (edição do autor).
Rafael, do alto de seus 20 anos, comprova maturidade como escritor e como ser humano. Novamente suas protagonistas são mulheres, em especial Natasha, uma jovem anoréxica que se automutila, sempre às voltas com a falta, a solidão, o desconforto com o corpo, a sociedade, o afeto.
Natasha e seus amigos cultuam um estilo de vida vazio. Ela e suas questões: por que, por quê, porque ou porquê; a menina que ela namora, o menino que a atrai, os amigos com quem compartilha cigarros, flanares, praças, aulas sem sentido, matar aula sem motivo, provas em branco. A própria narrativa, um diário num março que gira em looping sem fim, demarca o beco aparentemente sem saída.
Rafael Ferrari não responde, mas coloca com tocante sensibilidade as questões dessa geração, desses meninos e meninas perdidos na enormidade da cidade, da escola, dos caminhos por onde o afeto os levará, se levar. Retrata importantes temas, sem fazer tese, sem inventar saída. Será que há? Só eles, esses jovens, poderão responder.
Parabéns, Rafael, por mais essa bela obra.
Bjs!
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