Novelinha curta, mas muito legal, é “A Contadora de Filmes”, do chileno Hernán Rivera Letelier (CosacNaify). Passa-se no deserto do Atacama, nos anos 1950, 1960, auge do cinema hollywoodiano, mas também da produção mexicana que encantava, principalmente, latino-americanos de fala hispânica.
Numa comunidade paupérrima que gira em torno da mina de sal, uma família apaixonada por cinema, mas sem recursos para permitir que todos frequentem as sessões promove um concurso interno para decidir o melhor contador de filmes e elegê-lo para ver tudo – e trazer sua versão para pai e irmãos. A narradora, Maria Margarita, vence o certame, e aos poucos se torna verdadeira celebridade na vizinhança, com sua verve e poder de recriar, com a imaginação, o sonho da sala escura.
Com a ausência da mãe e a decadência do pai, aos poucos a família se desestrutura totalmente, acompanhando também o fim do ciclo econômico da região. Gradativamente, também a função da contadora se esvazia, à medida que entra em cena a televisão, tomando o lugar de John Wayne, Humphrey Bogart, Marylin Monroe e outros ídolos dos velhos tempos. Enquanto isso, a carga da pobreza cai pesada sobre os ombros da protagonista, destituindo-a do que restara dos sonhos de inocência de outrora.
Com narrativa direta e sem pieguice, o autor nos dá uma história simples, triste e dura, como as minas de sal do Atacama, em sua paisagem árida e gélida.
Beijocas!
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