Após assistir ao trêiler do filme “Retorno a Ítaca”, de Laurent Cantet, sabia que tinha que assistir a esse filme sobre uma reunião de amigos cubanos em torno de um deles, que se exilara na Espanha e acaba de voltar a Cuba. Do alto de um terraço próximo ao Malecon, Havana aos seus pés, Tania, Aldo, Rafa e Eddy se encontram em torno de Amadeo, que passou os últimos 16 anos fora do país.

Saudade, mágoas, cobranças, balanços, culpas e afetos se misturam na festa do reencontro. Em cena, uma geração que acreditou na Revolução, trabalhou como “voluntária” no corte de cana e na colheita de fumo, que foi reprimida por gostar dos Beatles, que viu a crise empurrar seus filhos para Miami, que hoje mal se sustenta com os salários de médicos, artistas e professores.

O amigo que se foi, e que deixou a mulher morrer de câncer à distância, inspira sentimentos extremos. Até revelar um segredo, responsável por sua fuga do país, acusações mútuas se farão. Afinal, se Amadeo agiu como um covarde, Rafa se tornou alcoólatra, Tania fracassou como profissional e como mãe, Aldo é um conformista e Eddy se corrompeu.

O filme não acusa nem defende. Apresenta Cuba e os cubanos com as críticas e simpatias possíveis. Numa estrutura de câmera na mão e gravações quase amadoras, centra-se no texto e na interpretação dos atores, um time consistente e cheio de verdade.

É, não é fácil ser cubano. Nem brasileiro. Nem humano.

Beijos!