Entre as leituras que temos feito no nosso clube direcionado aos autores brasilienses, uma das mais gratas surpresas é a prosa de Maurício Melo Júnior. Pernambucano radicado em Brasília, onde atua como jornalista, Maurício é tímido com relação à própria produção literária. Sem motivo algum, já que se trata de um autor maduro, elegante, denso, cuidadoso, uma leitura de primeira.

Seu volume “Andarilhos”, que analisamos (Edições Bagaço), reúne duas novelas primorosas. A primeira, “Caminho só de ida”, acompanha a trajetória de fuga de um negro do Tijuco (hoje Diamantina) em busca do sonho do quilombo de Palmares. Para isso, ele segue o rumo do coração e do rio São Francisco, que surge como personagem das dificuldades e confortos do negro em sua saga utópica.

Com linguagem poética elaborada, Maurício pesquisou não apenas costumes e informações históricas da época (início do século XIX), como termos usados no período, compondo um épica de silêncios e solidão, sonhos e pesadelos sem fim. Imagens fortes, descrições precisas, narrativa lírica feita de ritmo e tensão.

Já na segunda o tom é outro, mas o personagem novamente se vincula ao sertão. O cangaceiro Volta Seca inspirou Maurício a compor uma trama em que mistura realidade e ficção. Volta Seca existiu, foi do bando de Lampião desde criança, foi preso em Angicos, morou no Rio de Janeiro. Maurício consegue unir essa parte a uma ficcional em que Volta Seca vai trabalhar num jornal às vésperas do golpe de 1964 e faz amizade com jornalistas que virão a ser perseguidos pelo novo regime.

Com narrativa mais seca e tensa, a novela se recheia de ação, conjugando a experiência do cangaço com a resistência à ditadura de forma brilhante e inesperada, num desfecho arrebatador.

Viva a literatura de Maurício Melo Júnior, um autor de mais de 20 livros que, pela qualidade de sua produção, deveria ser mais conhecido, lido e estudado.

Beijos!