Há livros que têm trama interessante, bom ritmo e desenvolvimento, mas mesmo assim irritam a gente ou pela demora do personagem em assumir seu potencial como protagonista ou por falhas de acabamento da própria edição. “O Analista”, de John Katzenbach, possui os dois tipos de problema. No que se refere a tradução e edição, são inúmeros os casos, como “motor de polpa”, em vez de popa, ou “odor de objetos humanos” quando estoura um esgoto, espalhando, obviamente, dejetos. Isso sem falar em todos os “porque” errados.
Quanto à trama, porém, “O Analista” de fato consegue prender, pelo suspense da história de um psicanalista que, do nada, começa a ser ameaçado e a ter sua vida sequestrada por um inimigo oculto, que lhe invade da casa às contas, devassando e destruindo toda sua estabilidade.
O que incomoda é que, na primeira metade da narrativa, o personagem demora demais a agir com inteligência e a criar condições para uma virada na trama – que é claro que virá, senão o livro terminaria com a realização dos termos da ameaça, a meio do caminho.
Da virada em diante, quando a gente faz as pazes com o protagonista e ele começa a pensar como o leitor, ou seja, com a malícia que o caso exigia desde o início, aí o desenvolvimento se dá de forma mais fluida e as 460 páginas do romance são vencidas com menos atropelo.
Beijins!
Posts recomendadosVer Todos
A descoberta do Brasil e outros deslocamentos
Delicada e forte carpintaria literária
Diferentes emoções numa impressionante coleção de contos
Silêncio! Precisamos ouvir o canto da iara
Nas alturas escarpadas da estética
Falta de pensamento e de contato com a realidade, e a canalhice de sempre