Meu pai sempre dizia que quando a gente ainda não leu um bom autor é uma pessoa feliz porque ainda tem um grande prazer a descobrir. Pensando desse modo, foi até bom ter demorado a descobrir o Miguel Sousa Tavares, porque ele é fantástico e nunca mais quero parar de lê-lo. Minha recente fonte de prazeres literários é seu novo romance, “Madrugada Suja”.
Ambientado no interior de Portugal, numa vila às portas da extinção (tão parecida com a terra dos meus antepassados, onde estou situando também meu novo romance, ainda em construção), tem como protagonista um rapaz em busca de uma postura ética, logo depois de se envolver num acontecimento trágico numa madrugada de porre e bandalheira, em que uma jovem leva a pior.
O malfeito de Filipe o perturba pelos anos que se seguem, assim como sua história familiar, com a morte da mãe tão nova e a partida do pai para se engajar na revolução de 1974. Adulto e profissional, ele esbarrará em situações que lhe confrontam o sentido ético e o conduzem a uma tomada de posição que acabará por influir naquele caso do passado, na sujeira que envolveu a moça, ele e outros colegas de faculdade.
Com uma narrativa ao mesmo tempo poética e cheia de informações sobre a situação política, econômica e ambiental de uma Europa contemporânea em tantas encruzilhadas, “Madrugada Suja” ouve várias vozes, mas toma partido e se coloca com força dramática nos caminhos e descaminhos que as pessoas, os países e as consciências precisam adotar. Há saída, mas nada é fácil nem sem custo.
Beijos!
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