Quando minha amiga Ana Maria foi embora de Brasília, me deixou alguns legados, entre os quais o livro “Jardim de Inverno”, de Zélia Gattai, uma das sequências da série de memórias que ela escreveu, a começar por “Anarquistas Graças a Deus”. Este trata do período em que ela e Jorge Amado tiveram que deixar o Brasil, entre 1948 e 1952, depois da cassação do mandato de deputado dele devido à proibição do Partido Comunista.
Com uma linguagem deliciosamente fluida e com um domínio do contar casos como poucos, a escritora narra as agruras do exílio, as dificuldades políticas, tudo em meio a histórias engraçadas, singelas, comoventes. Descreve a Tchecoslováquia, onde moraram num castelo que o governo socialista destinou a escritores, um pouco da União Soviética, da China nos primeiros anos da revolução, elogia os avanços e conquistas sociais e critica o autoritarismo, o sectarismo e a perseguição sofrida por intelectuais e vozes dissonantes ao regime.
Outra fonte de histórias iluminadas são amigos do casal, como os poetas Pablo Neruda e Nicolás Guillén, além de artistas, políticos, o filho João Jorge, uma criança espevitada em meio a comunistas de todas as origens.
Me diverti e emocionei nesta leitura propiciada pela herança da Ana Maria e pela sensibilidade de Zélia Gattai.
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