Vai ser hoje (quarta, 25), a partir das 19h, na Biblioteca do Senado, o lançamento em Brasília do livro “Seu amigo esteve aqui”, de Cristina Chacel (Zahar), já lançado em Belo Horizonte e outras praças. O livro conta a história do desaparecido político Carlos Alberto Soares de Freitas, um militante mineiro que atuou em grupos clandestinos e foi preso, torturado e morto em 1971.
A história do “livro do Beto” chegou a mim por meio do meu amigo Régis Gonçalves, jornalista e uma das fontes da pesquisa que levantou (a custo) a trajetória de uma pessoa que tentava se esconder todo o tempo, em seus últimos anos de vida. Assim como Régis, outros amigos são personagens, como Antônio Ribeiro Romanelli, Apolo Heringer Lisboa, mas, sobretudo, minha prima Inês Etienne Romeu. Isso sem falar na presidenta Dilma Rousseff, que, como Inês, foi amiga e companheira de luta de Beto, codinome Breno.
Assim, com entrelaçamentos de emoção e memória, mergulhei na leitura (fácil, bem escrita e bem apurada) de um livro que traz de volta o negror dos tempos da ditadura, quando toda uma geração teve que abraçar o heroísmo para dizer não à barbárie que se instalou nas trevas daquele regime.
Beto foi um herói. Como seus pares, adotou a luta armada não porque gostasse de violência, mas por falta de alternativa de luta no campo aberto da democracia. Não pegou em armas, mas atuou na organização e na conscientização popular, fosse no campo ou na cidade. Anos na clandestinidade – tinha uma condenação por panfletagem! -, correu o país, ensinando, discutindo, clareando ideias, doando-se de corpo e alma.
Minha prima Inês Romeu foi quem revelou que o desaparecimento de Beto, em fevereiro de 1971, tinha terminado em tortura e assassinato na Casa da Morte, um “aparelho” montado pelas forças clandestinas da repressão em Petrópolis e de onde apenas um militante de esquerda saiu com vida: Inês, que cumpriu pena até a anistia, em 1979.
A história é longa e cheia de episódios tristes e belos, heroicos e humanos, em que a coragem e o amor ao país e ao povo falam mais alto que toda tentativa de calar essa força.
Obrigada, Régis, por pôr este livro no meu caminho. Obrigada, Cristina Chacel e toda a equipe que pesquisou e trouxe à luz mais um capítulo da verdade histórica de nosso país.
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