Na sexta (20), no Festival de Cinema, só consegui ver a mostra competitiva de documentários, mas valeu. O curta “Carga Viva”, da mineira Débora de Oliveira, teve o mérito de trazer à cena os burrinhos do Parque Municipal de Belo Horizonte, um patrimônio afetivo da memória de todo belo-horizontino, principalmente de quem vivenciava o Centro e passou a vida acompanhando a travessia suave dos animaizinhos rumo ao coração verde da cidade.
O longa “Hereros Angola”, de Sérgio Guerra, foi o ponto alto da noite. Acompanho o trabalho de Sérgio Guerra há muitos anos. Já o entrevistei quando era repórter e fiz muitas matérias sobre seus livros e sua produtora, a Maianga. Nascido em Pernambuco, ele se radicou na Bahia e depois em Angola, onde foi um dos impulsionadores do renascimento cultural do país pós-guerra. Como fotógrafo e como produtor, vem trazendo para o Brasil e o mundo os sons e as cores de um país riquíssimo e paupérrimo.
O documentário apresentado no festival é um típico filme de fotógrafo, com imagens impactantes, belíssimas, de um povo e um país desconhecidos para nós. Os hereros (foto) são uma etnia que se espalhou pelo território angolano em várias aldeias e subgrupos, mas com as mesmas tradições culturais. Vivendo na seca e na pobreza, têm nos bois sua riqueza e seu universo imaginário.
O filme conta, sem crítica ou enaltecimento, aspectos dessa cultura, hábitos, momentos de música e beleza, outros de violência, como o sacrifício de um boi ou a circuncisão dos meninos, o costume de arrancar dentes, o modo de lidar com a morte, com o sexo, o nascimento, etc. E não deixa de mencionar as influências da cultura ocidental, em particular a bebida alcoólica gerando lixo e descaracterização.
Na sessão de sexta, houve quem achasse o filme violento e longo. Sim, ele trabalha num ritmo que acompanha aquele povo, aquela natureza. Não faria sentido uma edição ágil, típica dos ritmos urbanos em que vivemos. Para entrar no olhar dos personagens retratados, só mesmo com respeito a tempos e silêncios dos quais nossa cultura se desacostumou. É preciso relaxar corpo e mente, olhos e ouvidos, e mergulhar nos herreros sem crítica, sem pé atrás. É um mundo novo a ser explorado.
Bjs!
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