Quanta delicadeza no documentário José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes! O mais premiado escritor da língua portuguesa, Nobel de literatura, estrela da palavra e da defesa dos ideais mais libertários, aparece aqui mais como homem frágil e apaixonado do que como o gigante em que se tornou nos últimos 20 anos de vida.
Saramago está com 83 anos quando a câmera do cineasta começa a acompanhá-lo. Nesse meio tempo, ele recebe mais algumas dezenas de homenagens, visita a cidade natal, a pequena Azinhaga, no “Portugal profundo”, trabalha, trabalha, trabalha, viaja, viaja, viaja, até cair doente e quase morrer.
A presença forte da mulher, da amada Pilar del Rio, pontua e referencia a luta pela recuperação e a volta por cima do escritor, que ainda termina de escrever e lança A viagem do elefante e tem a ideia para aquele que seria seu último romance, Caim.
Ao longo do documentário, podemos ver de perto a intimidade do casal apaixonado, brilhante em suas posições sempre a favor do justo e do certo – Pilar, inclusive, que normalmente se coloca mais discreta e menos abertamente, aparece em discursos pró-bascos, pró-homossexuais etc.
Saramago mostra toda sua grandeza e simplicidade, como quando joga paciência no computador, num momento em que a câmera o flagra e nos insinua que ali estaria sendo gestada mais alguma obra-prima da literatura.
Uma beleza, o filme. Uma emoção.
Beijus!
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