Correspondências do fim do mundo

Entre o final do século XIX e o início do século XX, grande número de imigrantes oriundos de nações europeias desembarcaram nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, trazendo consigo a esperança de construir uma vida melhor no Novo Mundo. Esses imigrantes não carregavam apenas a disposição ao trabalho: vieram junto com eles os costumes, a língua, a cultura, seus mitos e crenças religiosas, políticas e existenciais. Nesse contexto, os alemães, que preferiram fixar-se nas terras altas da Região Sul, em especial no estado de Santa Catarina, criaram autênticas vilas teutônicas em pleno território brasileiro e cultivavam quase tudo que era praticado ou vivenciado em seu país de origem.

A história que se segue é um caso hipotético de uma comunidade inteira que migrou da região de Baden-Würtemberg, fundando a cidade fictícia de Nova Baden-Baden. Lá tentaram recriar a Alemanha natal, principalmente no âmbito político. Só que, a partir da década de 1930, a população alemã imergiu numa realidade aparentemente pautada por um caminho de prosperidade, mas que na verdade se revelou o autêntico inferno de Dante. No rastro da nova ideologia dominante, o saldo foi de morte, sangue, destruição e o pior das mazelas humanas: o ódio.

Correspondências do fim do mundo recria nesse microcosmo ambientado no Sul do Brasil tudo o que acontecia na terra das Valquírias, e o resumo dessa ópera macabra é um conjunto de acontecimentos sangrentos, com todos os ingredientes reproduzidos por aqui: preconceito, violência, opressão, enfim, o terror.

No clima gélido da serra catarinense, até por meio da descrição da natureza inóspita do inverno glacial o escritor Gilmar Duarte Rocha contribui para a imersão do leitor no que há de pior da alma humana, quando o ódio, a discriminação e o supremacismo tomam o lugar do humanismo.