Águia sem ninho

Editar o livro de José do Patrocínio Nogueira e escrever sobre ele, pra mim, são atividades que me deixam à vontade. Sinto-me em casa ao ser convidada pela família pra tais tarefas. Não só porque nós, da Outubro Edições, adoramos memórias familiares e biografias de homens bons, mas porque a trajetória e a personalidade deste homem me lembra demais a de outro pai de família referencial em seu tempo, o meu pai.

As afinidades são muitas, a começar pela poesia. Só quem tem um pai poeta entende o que é aprender, pelo olhar daquele homem, a ver a vida por outro viés. A encontrar a beleza escondida nas coisas mais simples e nas mais complexas. A sentir brotar, a partir da generosidade, a empatia pelo outro. A se responsabilizar pelo mundo como nossa casa. A entender a caridade como a propôs São Paulo: traduzida como amor.

Em José do Patrocínio Nogueira, amor ao irmão e ao planeta é a mesma coisa. Amar a mulher amada e tecer para ela poemas apaixonados é o mesmo que celebrar a vida dos filhos e netos, a amizade arraigada ao longo da vida, a graça de viver os momentos de alegria no coletivo, em família ou nos grupos de amigos e de trabalho.

Os versos de Águia sem ninho são, por isso, atravessados pelo amor em todas as suas manifestações: amor caridade, amor paixão, amor ágape. Celebra o poeta uma vida íntegra em tudo que fez. Da atuação como militar comprometido com os valores da cidadania ao sacerdócio do magistério, que extrapolava a sala de aula para se tornar missão de vida.

É preciso ler Águia sem ninho e se entregar às dores e delícias de uma vida feliz, apesar das vicissitudes que fazem a musa soprar no ouvido do poeta. Ele lhe obedeceu direitinho e fez da poesia outra faceta desse homem íntegro e bom.

Clara Arreguy, jornalista e escritora