Aventuras de um ariano taurino

Bernardo de Andrade Carvalho foi meu professor no curso de Comunicação Social da UFMG no final dos anos setenta, logo que entrei para a faculdade. Era um jovem bonito e brilhante, que vinha de um mestrado nos Estados Unidos e destoava de certo clima acadêmico por nos apresentar a contraface da desgastada guerra fria ideológica que contrapunha os defensores dos norte-americanos aos adeptos dos soviéticos. Foi o Bernardo que nos apresentou, naquela época, o conceito da Nova Ordem Mundial da Comunicaçaão, em que os países não alinhados e de terceiro mundo deviam se unir numa aliança sul-sul, contrária ao domínio perpétuo do norte desenvolvido.

Desde o início achei aquilo fantástico, pois, embora sempre de esquerda, não me identificava com os velhos paradigmas do “socialismo real” e já postulava um socialismo democrático que invertesse a lógica de dominação vigente no planeta.

Não foi à toa que meu primeiro estágio remunerado foi com aquele professor arejado, portador do novo, que me deu uma segunda lição, agora fora da sala de aula. Um belo dia o pagamento atrasou e eu, impetuosa, imbuída dos novos ventos, cruzei os braços e disse que não trabalharia pois estava em greve. Ele me repreendeu com firmeza, explicando que greve era instrumento sério de luta, não brincadeira irresponsável. Entendi o recado, aprendi.

A amizade e o respeito entre nós se solidificaram. Numa festa em sua casa, encontrei meu irmão Tostão (José Henriques Maia Filho, 1949-2001), que também era professor na mesma universidade. Era mais um ponto em comum no afeto a se entrelaçar.

Depois o Bernardo se mudou para São Paulo, foi atuar em grandes empresas, tornou-se um dos mais importantes editores/comentaristas de Internacional do país. Nas suas andanças, passou uns anos na Bahia e veio parar em Brasília, onde também eu havia deitado raízes. Voltamos a nos encontrar, a conviver (menos do que permitem os compromissos), mas sempre com tempo para um papo ou um jogo do Galo.

Agora ele me honra com a publicação de suas crônicas em livro pela Outubro Edições. Nelas, podemos conhecer um pouco de suas aventuras, suas observações sobre a vida, o mundo e o ser humano, pelo olhar do cronista atento e do cidadão empático. Aproveitem!

Clara Arreguy, jornalista e escritora