Dostoiévski arrebatador

Se a carência de leitura em nosso país já chama a atenção de todos os elos da cadeia de criação literária e de formulação de políticas culturais, o que dizer da falta de pensamento e produção ensaística sobre a literatura? Escritores e editoras se ressentem da ausência de crítica e de resenhas em quantidade e qualidade que façam jus ao mercado de livros num país das dimensões do Brasil.

Felizmente, aqui tratamos de uma das raras e honrosas exceções a esse problema. Vera Lúcia de Oliveira é professora aposentada da Letras/UnB e assídua resenhista e estudiosa de gêneros e nomes. Com formação também em Teoria Psicanalítica, não poupa esforços para compartilhar conhecimentos e reflexões, em textos que publica em jornais, revistas e redes sociais. Tenho a sorte de fazer parte de um clube de leitura com ela e outros bambas da área, o que representa o equivalente a um curso mensal de atualização em literatura brasileira e universal, em clássicos e contemporâneos.

Uma das especialidades de Vera Lúcia são os russos, em especial Dostoiévski. Nesta reunião de onze artigos em torno do genial criador de Os irmãos Karamázov e Crime e castigo, a mestra nos brinda, em textos ao mesmo tempo profundos e fluidos, com análises que mergulham nas principais obras do escritor russo. E o faz a partir de referências ora evidentes, como Shakespeare, ora inusitadas, como García Márquez e Graciliano Ramos. A criatividade de sua leitura sobre tramas e personagens dostoievskianos não tem limites.

Nós, da Outubro Edições, com uma publicação como este Dostoiévski arrebatador, de Vera Lúcia de Oliveira, enchemos o peito de orgulho e de sorrisos o rosto. Afinal, na batalha em defesa do livro, da leitura, da literatura, da educação e da cultura como únicos caminhos de salvação do futuro do país e do planeta, uma arma como esta é poderosa como um romance de Dostoiévski.

Clara Arreguy, jornalista e escritora