São dez horas da primeira manhã do feriado
E uma pomba preta veio comer no meu jardim.
Não disse nada,
Não trouxe companhia.
Está fraca, toda arrepiada
E não tem medo de mim.
Falo pra ir embora.
Queira o que quiser,
Vá embora daqui.
Não venha cagar na minha janela.
Não se abala.
A fraqueza lhe dá força pra resistir.
Eu, se tiver coragem,
Que a ponha mureta abaixo.
Vai voar? Vai planar?
Ou mergulhar três andares
Até se esborrachar no asfalto?
Não é o corvo de Poe,
Não é a pomba da paz de Picasso.
– Seria mesmo irônico
Receber a visita da pomba branca
Enquanto os mísseis despencam
Sobre o chão do planeta.
A pomba preta se encolhe,
Não quer ir embora
Nem chama ninguém.
Veio à minha companhia
Apenas pra morrer sossegada.
Me olha de lado,
com seu olhar de pássaro,
E responde sem confiança:
Não simbolizo nada.
Sou apenas uma pomba preta
À procura de um canto
Pra dizer adeus.
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