Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
A noite de abertura do 42º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro teve de tudo: excesso de lotação no Teatro Nacional, protesto da produção de Lula, o filho do Brasil, vaias a Luiz Carlos Barreto, que denunciou o perigo de ter as saídas (escadas centrais e laterais) tomadas por pessoas (e que convidou os que estavam no chão para verem depois outra sessão do filme), protesto de um grupo pedindo a libertação de Cesare Battisti, protesto dos cegos, dos surdos… e falta de lugar para a produção do filme sentar (mais ou menos contornada pelo pessoal da Secretaria de Cultura, que aos poucos ajeitou na plateia artistas e políticos.
Presentes Glória Pires (que faz a mãe de Lula, Dona Lindu, o ponto alto do filme) e o marido, Orlando Morais, Cléo Pires (que faz a primeira mulher de Lula), Juliana Baroni (Dona Marisa Letícia no filme), Milhem Cortaz (em forte desempenho como o pai de Lula), Antônio Pitanga, Lucélia Santos (ambos ícones do cinema nacional, em participações especiais), além do protagonista, Rui Ricardo Diaz, uma ótima revelação, do diretor, Fábio Barreto, e de membros da equipe técnica.
O filme em si não é uma grande obra, mas realiza bem a proposta de contar, em forma de melodrama, a história de um brasileiro que passou por todo tipo de dificuldade e conseguiu crescer, por obra de seu esforço, talento, inteligência, pertinácia e, por que não?, sorte. Como bom melodrama, oferece várias oportunidades para arrancar lágrimas da plateia, seja nos momentos em que as crianças passam perrengues, seja nas tragédias familiares que configuraram a história do hoje presidente do Brasil, seja pela emoção de quem viveu as lutas democráticas na virada dos anos 70 para os 80.
Fábio Barreto se atém a essa trajetória, que vai do nascimento à chegada à posição de líder dos metalúrgicos, após as greves no ABC e a prisão no Dops, antes da fundação do Partido dos Trabalhadores. Ficam ali visíveis a forja do caráter do líder operário, bom número de seus dramas pessoais e, infelizmente, a sonegação de parte dessa história. A filha que ele teve fora dos dois casamentos e cuja existência (varrida para baixo do tapete) já lhe rendeu desgastes políticos de sobra na campanha eleitoral de 1989, não é sequer mencionada no filme. Uma pena.
De qualquer maneira, o filme foi aplaudido pelo Teatro Nacional lotado. Quem conhece o público do Festival de Brasília sabe que isso não é pouco.
Beijos!
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