O título do livro de Marília Kubota, Eu também sou brasileira (Lavra Editora), é uma afirmação basilar pra se compreender a importância desses textos da poeta paranaense. Neta de imigrantes que vieram do Japão, Marília, durante boa parte da vida não se percebia brasileira e tinha que lidar com essa dualidade. Precisou estudar a diáspora japonesa para chegar à conclusão que dá título a essa coletânea de crônicas. Assim como teve que atuar com grupos de mulheres para se perceber feminista.

Hoje Marília Kubota é um dos expoentes do movimento Mulherio das Letras nacionalmente. Curadora de importantes coletâneas de poesia de mulheres de todo o Brasil – a mais importante, pra mim, Um Girassol nos Teus Cabelos, que celebra Marielle Franco. E poeta, jornalista, editora.

Nas crônicas de Eu também sou brasileira, a questão da pluralidade cultural, da natureza multiétnica do povo brasileiro, é uma das mais presentes entre os temas, mas não a única. Também falam alto questões pessoais de Marília, como a timidez excessiva, que já a levou a terapias e todo tipo de trabalho para superar dificuldades nas relações sociais.

E há ainda outros aspectos de sua vida, da vida de seus pais e avós, da luta das mulheres, da sua região, Paranaguá, a Estrada da Graciosa (por onde já viajei de bicicleta!), Curitiba, São Paulo, flashes da cultura e da vida de uma região do país Marília escreve com fluidez, se abre na escrita mais do que dá conta na hora de fazê-lo em público, embora hoje os saraus já lhe sejam possíveis, e prova como a escrita salva, como a escrita pode curar. Parabéns por mais essa contribuição à luta das mulheres, sobretudo das que escrevem.