O livro deste mês no nosso clube de leitura foi O Ano do Pensamento Mágico, de Joan Didion (Harper Collins), um relato do processo vivido pela escritora norte-americana após a morte de seu marido, o também escritor John Dunne.
Joan e John viveram juntos durante décadas, moravam juntos, escreveram juntos muitos roteiros de filmes, adotaram a filha Quintana. Eram amantes, amigos, companheiros. Quase uma só pessoa. Até que numa noite como outra qualquer John sofreu um enfarte fulminante e caiu morto na mesa do jantar.
No livro, Joan descreve a vivência do luto em meio ao caos em sua vida. Ela e o marido vinham de visitar a filha no hospital. Quintana passava por uma série de problemas gravíssimos de saúde, que acabaram por culminar em sua morte um tempo depois da morte do pai (tema de outro livro da escritora, Noites Azuis). Joan teve que realizar a perda do companheiro enquanto se virava pra tentar ajudar a filha, salvá-la, talvez.
A verdade é que nunca estamos preparados para as perdas inexoráveis, por mais que saibamos racionalmente que a única certeza da vida é a morte. Os passos são conhecidos: denegação, racionalização, revolta, aceitação, até aprendermos a viver sem o outro, até que aquela dor ocupe seu lugar no nosso coração e a gente viva com ela ali, sempre presente.
O título do livro remete ao mágico que sentimos no início, aquela crença absurda de que nada daquilo aconteceu, de que uma hora a pessoa vai voltar e tudo vai retomar seu curso como antes. Nem precisa dizer o sofrido que é passar por tudo isso. Não foi fácil ler O Ano do Pensamento Mágico enquanto passava, eu também, por uma perda dolorosa em minha vida. Mas, pra mim, a literatura sempre ajuda. Sempre ensina. Sempre consola.
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