As qualidades observadas na estreia de Bia Leal estão presentes neste segundo romance. A linguagem precisa, profunda, irônica. A pesquisa que lhe permite abordar os assuntos pretendidos com a segurança de quem sabe o que está falando. A sensibilidade na criação e no desenvolvimento de personagens complexos.
Se em Mulheres que mordem as mães da Praça de Maio da Argentina (e as filhas, no caso da protagonista) eram o foco central, aqui temos duas irmãs gêmeas, com suas personalidades quase antagônicas, mas igualmente o conflito entre a complementaridade e a rivalidade. A firmeza de Lívia versus a insegurança de Lavínia. Desejos entrecruzados na procura de felicidade e realização, essa miragem à frente de qualquer uma.
Enquanto no romance anterior o protagonista masculino (o pai torturador) deixava margem a dúvidas quanto à sua coerência (nas sessões de análise em que revela como torturava), também aqui os dois homens, Orlando, o pai, e Ronaldo, o namorado (anagramas um do outro) igualmente resvalam em uma composição menos bem acabada do que no caso das mulheres. A desagregação de Orlando, que o encaminha para a vida na rua, soa um tanto extrema como solução para seu transtorno meio que TOC. E em Ronaldo ela se aprofunda pouco em comparação com as outras personagens.
Nada que comprometa a credibilidade do romance. Beatriz Leal Craveiro escreve muito bem, leem-se seus livros com fluidez e a fruição da frase bem construída, da palavra bem colocada, do ritmo cuidadosamente atribuído. Cada voz tem sua dicção, cada capítulo conduz ao próximo um leitor sedento de saber tudo até o final.
Parabéns, Bia Leal, por mais esse acerto!
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