Não é porque foi aniversário dela ontem, mas a Beatriz Leal Craveiro acaba de presentear o leitor com seu novo romance, Elefantes barrem (Penalux), que, após alguns contos premiados, se segue ao renomado Mulheres que mordem, finalista no Jabuti de 2015. 

As qualidades observadas na estreia de Bia Leal estão presentes neste segundo romance. A linguagem precisa, profunda, irônica. A pesquisa que lhe permite abordar os assuntos pretendidos com a segurança de quem sabe o que está falando. A sensibilidade na criação e no desenvolvimento de personagens complexos.

Se em Mulheres que mordem as mães da Praça de Maio da Argentina (e as filhas, no caso da protagonista) eram o foco central, aqui temos duas irmãs gêmeas, com suas personalidades quase antagônicas, mas igualmente o conflito entre a complementaridade e a rivalidade. A firmeza de Lívia versus a insegurança de Lavínia. Desejos entrecruzados na procura de felicidade e realização, essa miragem à frente de qualquer uma.

Enquanto no romance anterior o protagonista masculino (o pai torturador) deixava margem a dúvidas quanto à sua coerência (nas sessões de análise em que revela como torturava), também aqui os dois homens, Orlando, o pai, e Ronaldo, o namorado (anagramas um do outro) igualmente resvalam em uma composição menos bem acabada do que no caso das mulheres. A desagregação de Orlando, que o encaminha para a vida na rua, soa um tanto extrema como solução para seu transtorno meio que TOC. E em Ronaldo ela se aprofunda pouco em comparação com as outras personagens.  

Nada que comprometa a credibilidade do romance. Beatriz Leal Craveiro escreve muito bem, leem-se seus livros com fluidez e a fruição da frase bem construída, da palavra bem colocada, do ritmo cuidadosamente atribuído. Cada voz tem sua dicção, cada capítulo conduz ao próximo um leitor sedento de saber tudo até o final.

Parabéns, Bia Leal, por mais esse acerto!