Duas escritoras mineiras, Terezinha e Stella, cada qual com suas qualidades.

Terezinha Pereira, de Pará de Minas, minha amiga e parceira em projetos, assina os ótimos contos de “O amante imaginário”. São histórias curtas, mas recheadas de emoções. Tem o amor entre o velho poeta e sua amada, que só podem se encontrar depois que o marido dela morre, tem diálogos cultos sobre a Capela Sistina, tem uma observação sensível sobre uma mulher pobre que vive sozinha entre gatos, tem situações em que nostalgia rima com poesia, em prosa poética pautada por imagens do passado e sonhos irrealizados.

O conto que mais me impressionou, “Vilma”, aborda um tema que me é caro: o do trabalho doméstico, resquício da nossa sociedade escravagista, em que exploração e afeto se trançam de uma maneira tão bela quanto triste, como bem retrata Terezinha em sua narrativa.

Já Stella Maris Rezende é a premiadíssima autora de “As gêmeas da família”, vencedor de importantes certames. Destinado ao público juvenil, conta a história de uma família marcada por uma praga, condenada à desdita, à tragédia. Três irmãs gêmeas, fãs de Rita Pavone, vivem o início da ditadura, nos anos 1960, em meio à dificuldade na relação com a mãe e com a própria identidade.

Com bela exploração de uma linguagem ao mesmo tempo popular e extravagante, quase erudita, há momentos em que a literatura de Stella Maris lembra Roberto Drummond, pelo cacoete de adotar uma estrutura e nela seguir a narrativa de forma poética e fantasiosa. Se a resolução do mistério do desaparecimento da mãe, ao final, deixa a desejar na expectativa do leitor, o romance vale pela sutileza com que trata as jovens num momento tão difícil da vida das mulheres, principalmente nessa idade.

Beijão!