O romance “O Brasil”, de Mino Carta (Record), tem título pretensioso, mas cumpre tudo que promete – como sói acontecer com Mino Carta, o grande nome do jornalismo brasileiro, um cara sério, independente, comprometido com o país e com seu povo, uma raridade na nossa profissão.

A estrutura escolhida por Mino Carta usa um recurso que muito me agrada: misturar ficção com realidade. Como fio condutor, acompanhamos a história de um jornalista em início de carreira, Abukir, um profissional jovem e talentoso, que procura seu espaço nas redações paulistanas e um lugar ao sol na sociedade daqueles tempos de ditadura e censura.

Entremeiam os capítulos reminiscências do próprio Mino Carta, um jornalista de ponta, que criou e dirigiu veículos como Veja, IstoÉ, Senhor, esteve em redações dos principais jornalões e privou com autoridades como o general Golbery do Couto e Silva, então ministro-chefe da Casa Civil, e Armando Falcão, tenebroso ministro da Justiça na época dos militares.

Entre a subida de Abukir na carreira, aos poucos abandonando qualquer resquício de opção ideológica, ética ou moral, e as memórias de Mino sobre episódios definidores da vida nacional, como o suicídio de Getúlio Vargas, o golpe militar, o AI-5, o assassinato de Vladimir Herzog e o surgimento de uma nova liderança política na figura de Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil, de fato, desfila ante nossos olhos.

Mino Carta faz isso não apenas com conhecimento dos fatos e personagens, não apenas com posições claras e corajosas, mas com um domínio narrativo impressionante, um texto saboroso e fluente, uma leitura que não cansa – pelo contrário, absorve o leitor até a última linha.

Delicioso! Beijocas!