Querida Clara
Acabei de ler a metade do seu livro – Praça Esperanto / Memória para esquecer (começando por esse segundo) e me senti sua amiga íntima, mesmo com os “não falei” que estão nas páginas 103 e 104. Como saí do Rio em 1972, já formada, e vim morar em BH – que só conhecia, na época, por pequenos trajetos entre casas de tias-avós -, gostei demais de percorrer alguns caminhos mostrados por você nas andanças da infância, adolescência e vida adulta, contando detalhes dos lugares e das pessoas que ali moravam.

Sua escrita brota emoção por todos os poros, com pitadas de humor que tornam a narrativa tão leve e, mesmo, divertida. Lá vai atravessando as épocas e, de certa forma, a vida da família que deveria ser, certamente, a vida de tantas outras famílias, com suas nuances, é claro. Adorei os nomes com que batizou os pequenos capítulos, intimistas, coloquiais, anunciando as próximas histórias ou resumindo a nova emoção que nos espera ali. Quantos apelidos inventados pelo Zezinho (pág 72), a pausa para recarregar as baterias (pág 74), as palavras fora de moda (pág 79), as personalíssimas referências ao amor (pág. 84), a perfeita expressão do “cheio de provisoriedades” (pág. 85).

Minha maior identificação foi com o “sempre fui notívaga” (pág. 92), mas agora você está aprendendo a curtir os amanheceres de Brasília, enquanto eu continuo cada vez mais coruja, já que meu trabalho permite jornadas à tarde e à noite.

Assino embaixo da orelha do Antônio Sérgio, quando acentua a pertinência do vocabulário que você usa, reproduzindo a fala das personagens, as expressões muito peculiares e, principalmente, a enorme dose de poesia que permeia seus relatos, com descrições minuciosas das cenas mas, sobretudo, do ambiente cultivado por essa família afetuosa e unida.

Agora vou partir para a Praça Esperanto, conhecendo um pouco mais de você e o que está subjacente na leitora contumaz, que nos delicia com suas resenhas precisas e também emotivas. Um beijo afetuoso da Flávia

Flávia de Queiroz Lima, poeta