O livro “Quem desloca tem preferência”, de Marcelino Rodrigues da Silva (Relicário), discute o futebol sob os mais variados aspectos sociológicos, filosóficos e antropológicos, mas nem por isso tira o prazer de quem gosta do esporte pra torcer e se emocionar.
Coletânea de diversos textos e artigos produzidos pelo professor da Letras UFMG desde que elegeu o tema para suas teses de mestrado e doutorado, o livro foca principalmente numa bibliografia encabeçada por Mário Filho, mais conhecido como nome do Maracanã e irmão de Nelson Rodrigues.
Mas Mário Filho foi muito mais que isso. Jornalista responsável pela modernização da cobertura esportiva pela imprensa, na virada dos anos 1920 para 1930, ele foi também cronista e observador arguto das mudanças que a popularização do futebol provocava na sociedade brasileira, a partir, sobretudo, do profissionalismo e da entrada em cena de atletas negros e mulatos.
De Mário Filho e Nelson Rodrigues, passando pela experiência do próprio pai, na Belo Horizonte dos anos 1940 e 1950, Marcelino fala de Brasil, de racismo, de Atlético e Cruzeiro, de paixão, de vasta bibliografia, dos desenhos do saudoso Fernando Pierucetti, o Mangabeira, chargista que criou os mascotes do Galo, da Raposa e do Coelho, entre outros…
O livro de Marcelino é interessante, fluente, discute teoria sem ser difícil nem maçante. Pra minha surpresa, ele inclui, na última parte, o texto que escreveu como posfácio ao meu romance “Segunda Divisão”, de 2005, no qual foi generoso e lisonjeiro com minha criação.
Por fim, mas não menos saboroso e importante, ele fecha a volume com uma reflexão sobre a Copa de 2014 e o rodriguiano episódio da goleada do Brasil para a Alemanha, por 7×1, numa linha de raciocínio que compartilho: somente o futebol, com sua grandeza trágica, permite tais manobras do destino.
Bjs!
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