Nunca fui leitora de Henry Miller. Conheço o escritor mais de histórias sobre ele, como o filme Henry e June, que marcou época, do que pela leitura de seus livros. Então, nessa incursão que venho fazendo em minha própria biblioteca durante a pandemia, me deparei com esse volume fininho chamado Dias de Paz em Clichy (José Olympio). Fui quente achando alguma coisa que não sei o quê. Só sei que o título é enganador e não tem nada de “dias de paz”, pois se trata das aventuras sexuais do escritor norte-americano em sua temporada parisiense às portas da II Guerra Mundial.
Henry Miller, neste livro, me lembrou demais Bukowski, pela linguagem nua e crua com a qual trata o tema do sexo. O personagem e seu amigo Carl moram juntos na região de Montmartre, conhecida como reduto de artistas e boêmios, e passam o tempo à procura de inspiração para escrever e de prostitutas com quem pegar uma gonorreia, como admitem. Ou qualquer mulher de comportamento mais liberal para a época. Em meio a encontros e desencontros, o narrador tenta colocar poesia na vida carente e objetificada dessas mulheres. Tenta pagar uma refeição para uma delas, dispensando-a da “natural” contrapartida sexual. Tenta tratar com o que ele considera carinho e respeito aquelas a quem usa para satisfação de desejos imediatos e rasos.
São duas novelas curtas que se complementam, com personagens tristemente reais. Mas nem tudo é carne nesses “dias de calma”. Tem também o antissemitismo evidente e incômodo para os dois amigos, o ambiente pré-guerra que antecipa o absurdo em que a vida em breve se transformará. Uma sensação de vazio para a qual esse sexo aparentemente livre serve de metáfora. Triste metáfora.
Já tentei ler Henry Miller, mas além de achar sua linguagem muito crua, também achei muito parecido com o James Joyce e não consegui ler toda sua trilogia sexual… Mas adorei a resenha!