Acabo de ler, em edição de bolso, talvez o único romance de Philip Roth que me faltava no “currículo”, O avesso da vida (Companhia de Bolso). Não preciso ficar repetindo o quão genial considero o escritor norte-americano, mas vale falar da genialidade deste romance. Para quem, como eu, escreve, é especial no quesito limites entre ficção e realidade.
Essas fronteiras são temas caros ao autor de Pastoral americana. O duplo, o alter-ego, a eterna discussão sobre as consequências, na vida de Nathan Zuckerman (seu alter-ego) de usar como personagens de seus livros gente da familia ou qualquer pessoa com quem se relacione. 
Zuckerman, como Roth, é um autor de sucesso, cujo romance mais famoso versa sobre uma família de judeus em Newark, Nova Jersey (como Zuckerman e Roth). Em vários de seus livros, os pais ficam arrasados com a forma como ele retrata os pais no romance. O irmão, Henry, acusa Nathan pela morte do pai. Os dois ficam brigados durante anos por causa disso.
Em O avesso da vida, no primeiro capítulo, Henry, impotente devido à medicação para um problema cardíaco, resolve se operar e acaba morrendo. No segundo capítulo, Henry não morre na cirurgia e vai para Israel, onde se junta a colonos fundamentalistas. No terceiro capítulo, quem fica impotente devido ao problema cardíaco é Nathan, que acaba morrendo na cirurgia. E vai por aí afora…
O romance mescla pontos de vista, narrativas cruzadas, versões possíveis, reflexões sobre o que poderia ter sido e não foi, ou foi, discutindo as infinitas possibilidades do romance, as questões do amor, do sexo, de Israel, da literatura num sentido o mais amplo possível. É leitura instigante como poucas.
Beijinhos e bom fim de semana!