A morte de Camilo Teixeira da Costa, o Camilão, como o chamávamos em Minas, me acendeu lembranças. Era ele o diretor do jornal Estado de Minas quando entrei para a empresa, em 1987. Petista (mais de coração do que de carteirinha), eu estreava na profissão de repórter e crítica de teatro, e trazia intactas a rebeldia e a independência pelas quais sempre lutei. Certa noite, no lançamento de um livro do amigo Roberto Drummond, o Mauro Werkema, então editor de Agropecuária, que tinha me levado para o jornal, me apresentou ao Camilão. Fui lá perto sem graça e ele, carinhoso, me deu dois beijos na bochecha. Me pegou pela mão, me deu o braço e saiu passeando comigo pelo foyer do Palácio das Artes, onde uma multidão se acotovelava pelo autógrafo do escritor.
Aí que eu fiquei sem graça mesmo, porque na minha cabeça de comuna era impensável flanar de braço dado com o patrão, ainda mais na frente de todo mundo (todo mundo que contava para mim, na época). Ele me perguntou pelo Etienne, meu tio, disse que sempre quis tê-lo nos Associados, mas que nunca tinha dado certo a conversa, talvez porque o Etienne fosse a alma do O Diário (católico), onde atuou por décadas. Disse que gostava muito de mim, que eu tinha talento e que era bom para a empresa me ter em seus quadros.
Depois daquilo, poucas vezes estive novamente com o Camilão em pessoa. Nos anos 90 ele se afastou da condução do jornal, adoeceu, e agora se foi, após anos penando uma doença degenerativa.
Que Deus o tenha.
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