Quanta felicidade assistir ao novo espetáculo do Grupo Corpo, Sem mim! Não fosse a maravilhosa coreografia de Rodrigo Pederneiras – o que é chover no molhado, já que cada nova criação dele surpreende e emociona com igual poder -, a música volta a ser um caso à parte.
Zé Miguel Wisnik pesquisou e rearranjou composições do século XIII, de autoria do galego Martín Codax. Daí que as sonoridades obtidas remontam a oito séculos atrás, remetendo àquela poesia de amigo e amor que aprendemos como das primeiras manifestações literárias da Península Ibérica.
O idioma falado na Galícia parece uma mistura de português e espanhol, possui deliciosa sonoridade linguística e musical. O resultado disso tudo é um canto ancestral e envolvente, que conta entre os intérpretes com Milton Nascimento, Chico Buarque, Mônica Salmaso, Rita Ribeiro, cantoras galegas e brasileiras. O próprio Wisnik interpreta dois números, um dos quais uma canção de Codax que teve a pertitura perdida, então ele mesmo compôs a melodia, inspirado no estilo do autor.
Cantos populares daquela região europeia, parentes tão próximos das cantorias do sertão brasileiro, mineiro, casados com a coreografia que celebra o mar, junto a cenografia, iluminação e figurinos com a magnitude usual do Corpo, proporcionaram prazer renovado a quem assistiu ao espetáculo neste fim de semana, em Brasília.
De quebra, na abertura, teve reprise de O corpo, com música de Arnaldo Antunes. Bom demais!
Beijos!
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