O novo livro de Américo Antunes, Terra Prometida – um herege nas minas de ouro (Alameda), é um romance ambicioso no escopo que abarca: contar parte da história da formação de Minas Gerais, tendo como protagonista narrador um “cristão-novo”, designação dada aos judeus convertidos à força durante o período da Santa Inquisição. Como é sabido historicamente, a expulsão dos judeus da Península Ibérica, no século XV, foi acompanhada de toda forma de repressão à religião e à cultura judaicas. As pessoas eram obrigadas a se converter ao catolicismo, a renunciar à sua fé, a mudar de nome e adotar a religião e a cultura dominantes.

Muitas daquelas famílias, de fato, se tornaram cristãs. Mas muitas foram forçadas e praticar seu credo e seus ritos às escondidas. Muitos judeus expulsos de Portugal e Espanha foram para a Holanda, que os recebia e aceitava sem repressão. Muitos vieram para o então chamado Novo Mundo, os “recém-descobertos” Brasil, Américas do Norte e do Sul.

O jornalista e escritor Américo Antunes conta a história de Álvaro Lopes, cristão-novo convertido de fato ao cristianismo, que mantinha alguns dos costumes judaicos, como não comer carne de porco, mas que se justificava com argumentos ligados à saúde. Era necessário buscar justificativas para o caso de se tornar alvo de alguma perseguição. E, tão logo eles chegam e se destacam em alguma área, certamente estarão na mira do poder constituído: a Coroa Portuguesa, amparada na Santa Inquisição. Estas áreas de destaque: a geração e o acúmulo de riqueza. Inicialmente com a cana-de-açúcar, em seguida com o ouro, e no momento de que trata Terra Prometida, a descoberta do diamante na região do Tijuco, futuramente Diamantina.

A narrativa do romance começa com a exploração do caminho que levava da Bahia às regiões de mineração (as atuais Ouro Preto, Mariana, Sabará, São João del-Rei, Tiradentes, etc.) no início do século XVIII. Na sequência vêm a guerra dos emboabas, que contrapôs paulistas e “forasteiros”, que vieram a ser os mineiros. É criada a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro. Poucos anos depois, separam-se as duas e tem início a história de Minas Gerais,

No livro de Américo, toda essa história serve de pano de fundo para a vida de Álvaro Lopes, que enriqueceu como contador de um grande senhor da época (Nunes Viana), depois comerciante, ele próprio, das riquezas que vão sendo descobertas. A escravidão, a perseguição dos inquisidores aos de “sangue impuro”, contando aí gerações de descendentes de judeus, ainda que convertidos e até consagrados padres da Igreja Católica. Tudo com a finalidade de confiscar riquezas e se adonar de bens, pois “pureza” de sangue, no Brasil, nunca foi problema.

É interessante acompanhar essa história com a riqueza de detalhes permitida pelas pesquisas empreendidas pelo escritor e jornalista. Grande parte dos personagens existiram de fato, como foi o caso de Nunes Viana. Os fictícios, como o narrador, amarram a trama e lhe dão a carga de emoção. No mais, é conhecendo a história que se aprende um pouco melhor quem somos, de onde viemos e para onde pretendemos ir. Parabéns ao Américo pelo belo trabalho!