Até agora não resolvi se gosto ou não do filme Paraísos artificiais, de Marcos Prado. Em entrevista, li que o diretor receava, por um lado, cair na caretice, ou, por outro, fazer apologia das drogas, então buscou um equilíbrio entre mostrar que há prazer naquilo, mas que aquilo também mata ou faz estragos. Talvez seja este o problema: no meio do caminho entre uma série de sequências lisérgicas, sensoriais, de baladas movidas a ecstasy, e o registro das perdas provocadas pela vida no meio dessas drogas sintéticas, o filme não se assume muito bem.

As personagens procuram o que não sabem e não sabem o que querem. Personagens interessantes, como o pai e a mãe dos meninos, são mal explorados. O maluco doidão que introduz a mocinha na viagem de peiote deveria desempenhar papel mais nítido na história, como o contraponto contracultural, sessentista, ao abuso consumista e químico da contemporaneidade, mas isso também fica pelo caminho. Ele simplesmente some, sem morrer nem ser preso, como outros personagens.

Mas Paraísos artificiais acerta a mão em outros quesitos: na fotografia, na música, nas cenas de sexo, bem-sucedidas na proposta de se contrapor ao moralismo vigente no cinema nacional. E sobretudo na história de amor e desencontro que une e opõe a DJ meio perdidinha, que Nathália Dill faz sem comprometer, e o playboyzinho perdidão (interpretado por Luca Bianchi), que percorre o trajeto do paraíso artificial ao inferno real e tira disso alguma lição. Luz no fim do túnel.

É, acho que gostei. Beijus!