Um movimento interessante que tenho observado na produção literária recente, principalmente aqui em Brasília, de autores contemporâneos, diz respeito a fatos ocorridos durante a ditadura militar. Pelo menos quatro amigos, excelentes escritores, se debruçaram sobre o tema, cada um à sua maneira, e vou comentar alguns deles.
Começo pela Rosângela Vieira Rocha, escritora com quem compartilho amizade, afinidades artísticas e políticas, além de atividades ligadas à literatura, ao feminismo, às lutas democráticas que temos enfrentado nesses dias tenebrosos.
Seu romance “O indizível sentido do amor” (Patuá), que revisei antes de entrar em gráfica, é um dos mais tocantes relatos que tenho lido sobre o momento em questão. Porque, embora tenha como pano de fundo a ditadura, a militância e outras barras pesadas, trata-se de uma história de amor. E uma das mais belas e pungentes, como bem ressalta Maria Valéria Rezende num dos textos que apresentam o livro.
Rosângela foi casada por 35 anos com Jaca, um homem discreto em todos os aspectos, que trouxe essa e outras características dos tempos em que militou, foi preso e torturado. Assim como o companheiro nunca se gabou de heroísmo, Rosângela não se dá a arroubos, e relata, o mais sobriamente possível, sua história com Jaca, do encontro à felicidade, da harmonia à desconstrução representada pela doença e pela perda de seu amor.
Sem se dar ao melodrama, economizando nas adjetivações, Rosângela constrói um romance denso, substancial, em que a força do drama dialoga com seu jeito às vezes engraçado de ser mineira e irônica, de não se dar a estatura que de fato tem. Rosângela é uma grande escritora, e “O indizível sentido do amor” vai emocionar o leitor do início ao fim, comprovando tratar-se de uma obra redonda, madura, fundamental.
Beijos!
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