Conheci Cristino Wapichana na Flipiri deste ano, em Pirenópolis, e foi uma grata surpresa ter contato com o talento desse escritor, músico e militante cultural, um dos mais premiados autores da literatura infantojuvenil brasileira na atualidade. Seu livro “A boca da noite” (Zit Editora) ganhou o Jabuti em 2016, o internacional Peter Pan e outras premiações. Dele li “O cão e o curumim” (Melhoramentos), um relato delicioso sobre ritos de passagem de um menino e de seu melhor amigo, um cachorrinho.
Cristino, seja nos livros, nas palestras ou nas cartilhas pedagógicas que elabora junto com Daniel Munduruku, faz questão de explicar o uso inadequado de terminologias como “índio” e “tribo”. O correto é indígenas, indivíduos pertencentes a grupos culturais, ou seja, povos, não tribos. Ele é um Wapichana. Com suas histórias, seus mitos fundadores, suas tradições culturais e seu idioma próprio.
No livro, o pequeno curumim está prestes a entrar na vida adulta, a participar de caçadas, a enfrentar os perigos da mata fechada, como onças e antas, distantes da aldeia, onde os parentes se protegem, onde os adultos cuidam das crianças.
Ao receber de presente um cãozinho, nomeado Amigo, ele não só ganha companhia para as aventuras, como outro protagonista para realizações que representam a entrada no mundo adulto.
Em linguagem delicada, bem-humorada, leve como a vida na aldeia, e com as belíssimas ilustrações de Taisa Borges, Cristino Wapichana constrói um livro delicioso para a leitura de crianças de qualquer idade, dos oito aos oitenta. E o faz com a propriedade de quem nasceu e vive na pele a realidade da qual fala.
Na foto, Cristino tocando durante a Flipiri, em agosto de 2019.

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