Lucília Garcez, grande escritora e amiga querida, escreveu a orelha do nosso Estrelas de pés no chão:
Clara Arreguy está há muito tempo na estrada literária. Sempre focalizando com sensibilidade e delicadeza conflitos humanos, memórias, política e história. Entrelaçando os conflitos humanos com a reflexão sobre as circunstâncias sociais, nos oferece uma imersão nos múltiplos aspectos do universo feminino em Estrelas de pés no chão.
Oito mulheres se reúnem sob a coordenação de uma mestra para três dias de danças circulares celebrando o sagrado feminino. São de idades entre 23 e 68 anos, com percursos diferentes, com experiências específicas e diversas. Assim, vão surgindo personagens ancestrais que configuram a participação da mulher, cada uma à sua maneira, na construção da história feminina: ora submissas, ora matriarcas, dominadoras e poderosas; ora subjugadas, ora líderes engajadas; ora oprimidas, ora opressoras; ora inspiradoras, ora desconsideradas como exemplos; ora frágeis e dependentes, ora fortes e batalhadoras. Negras, brancas, imigrantes, ricas, pobres, tristes, alegres, saudáveis, doentes, felizes, infelizes, sobreviventes, casadas, solteiras, viúvas, divorciadas, lésbicas, amadas, desrespeitadas, resistentes.
Numa surpreendente estrutura narrativa, com um estilo leve e claro, em que predominam as falas das personagens em sua oralidade espontânea, Clara Arreguy nos leva a refletir sobre as diferentes circunstâncias históricas que constroem a situação da mulher na sociedade contemporânea.
Se o feminismo não é lutar pela superioridade da mulher em relação aos homens, mas, sim, acreditar na igualdade de direitos entre os gêneros, as diversas narrativas que constituem denúncias da condição subalterna da mulher diante da opressão masculina contribuem para que se possa considerar Estrelas de pés no chão um atual livro feminista no melhor sentido.
Uma leitura prazerosa, enriquecedora, estimulante e inesquecível, que nos faz rever continuamente nossos conceitos e valores.
Lucília Garcez, escritora
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